quarta-feira, 27 de março de 2013

A HORA DO CLIMAX


 Poema de JUAN  ANTONIO  CORREA (poeta uruguaio).
Traduzido pelo Acadêmico da ALAOMPE, Anchieta Antunes.

A  HORA  DO  CLIMAX

A madrugada estende suas coxas
entrecerra suas estrelas e suas luas,
a geada molha a pele de sua espera
e os roedores não vacilam e urbanizam-se,
o todo do nada não se guarda a segredo,
decanta-se o silencio nas pulsações
onde a nevoa sacode-se de tatos,
e na formicação  que salpica o encontro
há caminhos que só se nomeiam a gritos,
o palavrório dos amantes emigra
nos cães lançados à desordem
tudo late no seio do anacrônico,
a escuridão iluminada de milagres
deixa livre ao azar e à circunstancia,
gozam-se de si mesmos os eremitas,
os jardins morrem pisoteados
sob o descontrole sem medida
da febre fria dos sem memória,
tudo acontece sem piedade e sem lagrimas
tudo acontece  de alegrias desarmadas
e no precipitado sangue que ferve.
A madrugada estende suas coxas,
enquanto o alvor respingado de amoricos novos
dilata seu  coração com  presteza  cálida
de penetrar à consumação elevada
onde morrem os segredos clandestinos
onde proveem-se novos prestígios
onde o desconhecido é o conhecido.
A madrugada estende suas coxas
enquanto o alvor respingado de amoricos novos
corroa a seu tempo na hora distinta
o instante  cúspide  parido pelo novo dia.

Do blog: http://joancorretja.blogspot.com.br /25/03/2013/la-hora-del-climax.html


PINGOS DE DEUS


TEXTO DE ANCHIETA ANTUNES -
Naquela noite choveu muito; o chão estava encharcado, e em algumas partes do jardim, tufos de grama soltaram-se do solo e boiaram a deriva na fina lamina d’água, que corria mansa no suave declive. Por meses a fio os terrenos clamavam por  chuva. Todos os dias o sol mostrava sua cara lançando labaredas de calor sufocante. A cidade inteira pedia por um aguaceiro, toda a região queimava sob o calor intenso. Um inferno, aquele verão.
            A chuva foi chegando devagar, como para não assustar o povo, meiga como um afago. Os minutos foram passando e ela foi engrossando, nuvens negras cobriam o céu; a noite não podia ser mais escura. Um breu. A terra seca engolia em grandes sorvos aquela água, com loucura mórbida, afinal havia passado quatro meses sem beber uma gota sequer. Morria de sede. Aos poucos o estomago da terra foi ficando saciado e teve que mandar o excesso para cima, para que a água escorresse para outras paragens, para o lago próximo, para o rio seco de terra rachada, mostrando suas feridas sem cor.
            As gotas de chuva, os pingos de Deus, borrifando, no nosso pequeno globo azul: um monte de cores, formas e contornos, prata e ouro, curvas torcidas,  retas riscadas,  montes elevados,  precipícios oblíquos,  sulcos traçados, os pingos de Deus acomodaram lagos e lagoas nas toscas paragens  dos campos áridos.
            O brado de desespero escorria pelos fios pendentes das angustias, a tempestade rubra varria os campos de Deus, como a advertir que o fim estava próximo. A fúria cega do globo de gases parecia vingar-se do azul de nosso planeta ameno por tanto tempo. Os corações latiam em desesperação.
            As lagoas subiam céu acima em espirais de vapores borbulhantes. O mar revoltava-se em procelas intangíveis, derrubando pesqueiros no escuro profundo das vagas revoltadas. O caos estava estabelecido.
            A redenção chegou pé ante pé, no silencio da noite, molhando o telhado da casa apagada com a janela aberta à procura de um hausto de brisa. A fúria do  sol esvaiu-se com o sopro de Deus, com os pingos de Deus.
            O rio voltou a correr, a família da capivara escorregou pela ribanceira para banhar-se com água e barro; do jeito que ela gosta. _Parece que percebo um ar de riso nas folhagens das arvores!
_Como nós, as arvores choram e riem com o contentamento do fim da devastação. Estamos todos salvos e viveremos até o próximo ciclo.
Fomos socorridos pelas gotas de chuva, pelos pingos de Deus.
Anchieta Antunes – 27/03/13

terça-feira, 26 de março de 2013

domingo, 3 de março de 2013